ARTUROGAMERO
Durante aproximadamente dois anos utilizei as mesmas
folhas de carbono para desenhar uma série de autorretratos sem o auxílio de um
espelho. Nessa ocasião o desenho era uma forma de meditação interior da qual
provinha uma percepção cada vez mais aguda das galerias ocas, onde a voz
encontra projeção na face, onde se acumulam esponjas, secreções, águas em
desvio, salivas, onde se abrem os canais da voz e dos fluidos aéreos e aquosos
dentro da cabeça.
Esses desenhos não resultam de uma observação visual, mas tátil, auditiva, de brilhos intuídos. O desenho se transformou numa tentativa de perceber a redação de um sopro, a primeira existência da palavra antes de ser palavra ou do rosto antes de nascer e é simultaneamente a sedimentação do rosto velho e decadente, moribundo.
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